quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Na parede

A aranha na parede
A goteira pingando da infiltração
A torneira que não fecha
O prédio velho
Range as vezes
O caminhão de lixo que passa
Quatro horas
No fundo da sua retina
Nada existe
Nada existe
A aranha faz sua teia
A goteira alaga o chão
Seus pés se molhando
Imóvel olhando o nada
Quatro e quinze
Sem barulho na rua
Um carro passa com som alto
Quatro e vinte
A teia terminada
Uma só luz ligada
Seus pés não sentem o frio
Quatro e meia
Levanta
Caminha até o armário
Completa o copo
Bebe de uma vez
Quatro e trinta e cinco
Sai pela porta
Á aranha descansa na teia
A goteira aumenta
O barulho da chuva
Sem trovões
A rua deserta
Pega o elevador
Vai para o décimo oitavo
Caminha até a janela
Nenhum barulho no décimo oitavo
O prédio não range
Só a chuva que cai sem trovões
Senta na janela
Inclina o corpo
Cai
Dezoito andares
A luz ficou ligada
A goteira inundou tudo
A chuva levou o sangue que escorreu na calçada
Uma pessoa ouviu o barulho
Pensou que fosse uma batida
Voltou para a internet
A aranha continuou com a teia
A goteira diminui
Quatro e cinqüenta
Cinco horas
Cinco e meia
Um homem achou o corpo
Curiosos se juntaram
Seis e meia
Entraram no apartamento
A aranha tranqüila
Boatos por todos os lados
Sete horas
Reviraram o apartamento
A goteira acaba
Oito horas
Após muita procura não acharam nada
Nenhum bilhete, nada..
Colocaram a culpa na bebida
Nove horas
A família não veio
Muito barulho
Muitas sirenes
O policial antes de sair
Vê a aranha
Destrói a teia
Nove e um
O policial
Pisa na aranha
Tranca a porta
A aranha morre
Ela que não teve culpa!

Nenhum comentário:

Outro começo de noite

Outro começo de noite