segunda-feira, 31 de maio de 2010

Lá do sertão

Sei que não tenho muito para contar

Sei que minhas historias são comuns

Não conheci outros lugares

Sou apenas um sertanejo

Passei meus anos aqui

E talvez o mundo lá fora

Possa impressionar um pouco

Essas coisas que são pra você tão comuns

Eu que nunca vi

Tão longe estou

Do que ultrapassa as ramagens daqui

Você é tão moderna

E tudo que eu tenho são meus costumes

Minhas atitudes ariscas

Afinal não é incomum

Animais têm medo do desconhecido

E eu sou um bicho

Não se engane

Aprendi a me guiar pelos instintos

Não se assuste

Eu não vou morder

Meu conhecimento é pouco

Minha educação é simples

Essa educação

Que a gente recebe de casa mesmo

De escola nem vou falar nada

A vida é dura por aqui

Para sobreviver é preciso ser bruto

Você conhece homens que choram

Que não tem vergonha de ser quem são

Homens que entendem de arte

E sabem o que é bom

Eu só sei do que a rotina me mostra

Minha sofisticação se restringe

A musicas que não consigo entender

Não ria de mim

Sou feliz assim

Engana-se quem pensa

Que ignorância não traz felicidade

Sou alegre em minha vidinha

Você apareceu

E me falou de coisas que não posso tocar

Minha imaginação voa longe

Tenho muito o que descobrir ainda

Acabei de sair da caverna

E não sei bem ao certo

Se vou querer voltar

Você me faz ter coragem

Até quando...

Ate quando vai querer me ensinar

Se sua paciência dura não sei

Mas eu.. eu tenho vontade

Vontade e medo!

Numeros

Dois ou mais são loucos

Um a cada quatro não sabe o que faz

Três em cada cinco

Bebem pra esquecer

Nove em cada sete

Não sabem o que são

Doze em cada onze

Não conseguem contar

Treze em cada quarenta e cinco

Decoram dígitos para a urna

Um em cada meio concorda

Meio em cada dois entendem a pergunta

Oito em cada alfabeto

Não sabem ler

Cem por cento

Em cada generalização

Transformaram suas aspirações

Em meros números

Dezessete facadas em cada peito

Não conseguiram

Enumerar um motivo

Dois ou mais sentimentos

sábado, 29 de maio de 2010

O conto

Esse é o conto

Da dama que saiu do baile

E rondou por séculos

Procurando o caminho de casa

Esse é o conto

Do cientista que fez uma descoberta

Perdeu sua caderneta

E vaga pelas noites

Perguntando por ela com seu jaleco branco

Esse é o conto

Do musico que tocou em uma festa

Enfeitiçou o salão

Fazendo que se ouça o som

Das cordas bem afinadas do seu instrumento

Nas madrugadas de abril

São seres atormentados

Habitando os centros das cidades

As casas velhas

Os teatros e os museus

Tentando nas noites

Refazer seus espetáculos

Rápido

Indo rápido demais

Sem saber o que te espera

Em uma verdade louca

Essa noite pode ser a ultima

Mas você vive como se tivesse

Mil anos nas costas

Afastando se de seus princípios

Às vezes parada no meio do caminho

Sem entender ao certo

O que te levou ate ali

Como uma criança

Em um corpo de adulto

Você se acha tão esperta

Mais tem medo

Porque de tanta pressa...

Há tanto o que fazer

Se as horas não são suficientes

Basta exigir menos

Basta viver mais

Se o que fica é o que queremos

São estrelas

Que não podemos contar

Somos os mais ricos do mundo

E temos o tempo de relógios

Que não podem voltar

Você sabe

E não preciso te dizer

Um pouco sobre verdade e mentira

De sonhos e ilusões

De segredos embrulhados

De bons e maus amigos

Confiança e astúcia

Então não se preocupe

Você é tão esperta

Só é preciso calma

E estará certa

Na via de mão única

Na orla de quem segue o que acredita

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eis as pessoas

Conhecer alguém

É como ver de longe um quebra cabeça

No inicio as peças parecem simples de montar

É tudo muito óbvio

Mas quando se aproxima a mão

Elas começam a se fragmentar

E a cada nova peça montada

Outras se desmontam

Como pequenos segredos

De grandes dimensões

É quando se percebe

Que esta tudo por se descoberto

Então nesse momento

É preciso afastar os olhos

Lembrar da imagem no inicio

Estará então montado a sua frente

O que foi visto no começo

Deixando de lado

As partes ínfimas

A que sua mente desfragmentou

E quis criar sentido

Eis as pessoas

Só o que já estava posto

Mais do que está dado!

Eii, o que preciso te dizer

São tantas coisas

E é tão simples

Tão suave

E nada inovador

Mas mesmo assim não é fácil

Há sempre um pouco de medo

Então vou voltar ao inicio

É que ontem fui para casa

Lá vi o céu

As estrelas aparecem todas de noite

Indicando as distâncias

Aproximando as regiões

Como há mil anos

Sai descalço pela pastagem

Procurei as três Marias

Andei muito e não encontrei

Queria te provar que estavam ali

Foi a melhor coisa que fiz

Você não conseguia vê-las

Não vi também

Talvez não quisessem ser encontradas

Mas é o percurso que faz a descoberta

Nesse dia eu era a plenitude

Descobri os sentidos

Eu era o próprio vento

Podia sentir o corpo balançar leve no universo

Os feixes de luz na escuridão

O brilho do seu sorriso

Como há mil anos

O cruzeiro do sul

Fácil de achar

Mostrou-me o caminho

Algumas coisas são obvias e tão completas

Outras complicadas e tão distantes

É isso, é só isso!

Abstrato demais

Desculpe

Mas vim de um lugar

Em que homens não sabem falar certas coisas

Perco sempre o jeito de dizer

Sou o instinto puro

Fiz esse poema para que possa compreender

Rodando em círculos sem forma

Escutando uma musica

O cantor diz “ninguém disse que seria fácil”

E depois “vamos voltar ao inicio”

É o cientista que pede desculpas

Que não explica o universo

É grande e tão completo

Não há palavras

Mas vamos voltar ao inicio

Quem sabe eu consiga te explicar

Como um meteoro

Que por um segundo

Atravessa a posição estática dos astros

Conseguindo mostrar mais

Do que já esta dado

Meu vicio

Eu desperdiço meu tempo

São meus poemas

Eu me dedico tanto

São meus poemas

Minha diversão

Para que algum dia

Alguém diga deles que são tolos

Bobos e rasteiros

Mas é minha felicidade

Ligar palavras e construir sentidos

São meus poemas

A razão dos meus dias

O que não me faz pirar

São minhas palavras

Com quem converso

Com quem extravaso

Minha excentricidade

O tempo precioso

Jogado no ventilador

Das provas e do glamour

Que podem me trazer o luxo

Mas minha mania é um vicio

É uma terapia

Que eu consiga...

Conciliar o sentido

Dos meus dias rotineiros

Com poemas inéditos

Que falam sempre do mesmo

De um tempo

Posso falar de um tempo

Lado a lado

Quando bastávamos a nós mesmos

Posso falar de um tempo

De poucas pretensões

Nós podíamos mudar o mundo

Era só o que sabíamos

Que estávamos juntos e nada mais

Nossas noites não ficavam nubladas

Podia ver seus olhos brilharem

Ouvindo musicas inéditas

Era sempre o melhor som de nossas vidas

Sorrisos fáceis de sinceridade

Tínhamos no peito certa confiança

De que nada poderia nos abalar

Éramos dois em um só

E onde quer que me procurassem

Podiam te achar

Riamos juntos de amigos em comum

Você me criticava e desmentia

Eu Achava engraçado

Hoje nós não nos reconhecemos mais

Algo mudou

Deve ter sido o tempo que não parou

Não percebemos

Mas o que era eterno não se consolidou

quinta-feira, 27 de maio de 2010

É o que fica

Perdendo meu tempo

É o que fica

De uma vertigem incompleta

Esperei e acreditei

Que tudo se bastaria

Mas sempre é preciso mais

Mais é mais

De corpos e mentes cansadas

Que já não se agüentavam

Mas o tempo acabou

E a ampulheta não vira novamente

A areia se dispersou

Perdi meu passado

Não foram bons dias

As noites não chegavam

O sol cegava os olhos

Havia uma promessa

Mas nada se cumpriu

Talvez pudesse ser alguém

Mas a porta não se abria

Ela nunca abrirá

É o que sumiu no espaço

De um trabalho sem razão

E o que se construiu nos anos

Como os espasmos de uma ilusão

Textos inspirados

Posso construir textos inspirados

Montar palavras em uma frase

Falar de coisas que não sei

Projetar idéias impossíveis

Idealizar amores banais

Ironizar o que há de mais nobre

Enaltecer sentimentos pobres

Do que adianta

Se da minha boca não sai nada

Se o que penso se atrapalha no caminho

E tropeça em expressões desajeitadas

Anseio por ser comum

Por não ser mais que sentimentos contidos

Mas nada acontece como o planejado

E no final dá tudo sempre errado

Às vezes o fim não chegou

Espero estar muito longe de acabar

Há ainda muito que trilhar

Enquanto isso escondo minha face

Para que ninguém se assuste

Eu sou a falta de lógica

A inconstância

A coragem do que é palpável

E o medo do inatingível

Enfrento dragões

Mas nego ate o fim

Qualquer sentimento que emana de mim

Quanto podem dar te!

Quanto podem dar-te

O que podem fazer por você

Quais suas necessidades

Quais os seus medos

Quem poderá te proteger

Qual a melhor opção

A pessoa mais inteligente

A mais bonita

A mais poderosa

Qual o seu meio

O que mais importa

O que você não tem

O que você precisa

É um pacto

Uma troca

Não se engane

O amor se chama utilidade

Vaidade

Virilidade

Disponibilidade

Para suprir sentimentos banais

Não gostamos de ninguém

Temos uns ao outros

Só isso, é a posse!

O desejo saciado

Nada que fica

É a luta pela existência

Pela continuação de sua prole

Pela escravização das outras

E tudo se oculta

Sobre mantos modernos

Da proteção de direitos

Fundamentados na originária desigualdade

Tudo se desculpa

Na sombra da segurança

De que são os outros os nossos temores

A escoria do sentimento humano

Que não deixou de ser só carne

Que não deixou de se perfumar com sangue

Quanto sangue custa um carro

Uma casa, um castelo

Batalhas vencidas

Em uma história que não se fez por braços

Que não se fez por soldados, operários ou lavradores

Uma historia que se fez

Por vencedores e vencidos

Por dinheiro e propriedade

Grandes heróis

César, Carlos Magno, Ricardo coração de leão

Feras arrebatadoras

Quem diz

Quem diz que sou bom

É medíocre

Eu que não falo a verdade

Que escondo minha face

Eu que sei da desigualdade

Que não participo da revolução

Quem me diz que sou bom

É porque quer a mentira

Quer partilhar do medo e da omissão

Abaixando a cabeça

A toda rebeldia hipócrita

Não, não sou bom

Bom é quem pega nas armas

Bom é quem morre na luta

Quem vai ao campo

Quem assume a revolta

Quem não teme a verdade

Esse pensa

Esse tem um grande coração

É o terrorista

É o vírus do sistema

Esse de quem ninguém corta as asas

Nunca será um cativo

Eu sou o bom escravo

Permaneço no meu lugar

Finjo não ver nada

Não acredito no homem

Não vejo mudança

Sou o bom

O bom conservador

Revestido na roupagem da caridade

Não me diga que tenho moral

Dane se a moral, queria ter ética

Por favor, feche a boca

Não diga besteiras

Que ferem meu ego

Que me enchem de vergonha

Eu que não me movo

Que não tenho fé na mudança

Meus olhos não brilham

Eu sou uma farsa!

Vou voltar

Meus olhos

Tão cansados disso aqui

Querem aquele outro lugar

Meus pés

Sempre com meias

Querem aquele outro lugar

Meu cabelo

Tão cheio de química

Quer sentir o sal

Lá, há dois mil km daqui!

Onde eu possa andar

E sentir a areia molhada

Onde não existam luzes

Onde apareçam constelações

Onde meu corpo possa doer

Em um cansaço feliz

Sentindo cada onda se quebrar

Vendo o tempo passar

Minha alma não agüenta

Não consegue

Não se adapta

Não nasceu aqui

Ninguém entende

Ela nunca foi de lá

Mas nunca foi daqui

Não sei explicar

É a batida que faz vibrar

Ela vive da memória de sensações

Nós viemos da água

Eu e minha inseparável aura

Tentei reparti lá

Mas já não é possível

Eu vim da água

E pra lá vou voltar!

Não há razão que faça ficar.

sábado, 15 de maio de 2010

Acho que nem sou daqui

Acho que nem sou daqui ..

Algumas vezes eu penso
Que não faço parte disso
Algumas vezes eu vejo
Caírem grandes promessas
Que não fiz

É difícil acreditar
Que não há nada além
Que se está sozinho
Mas não há lugar para ficar
É um outro caminho

E não há nada á sentir
Esperando apenas
Qualquer coisa
Que faça acreditar

Vendo uma cidade
Escondida em becos
Algo diferente acontece
E a realidade vive
Entre grandes aspirações
Nada que eu queira
Ou siga

Algo controla
Pensamentos estranhos
Que se ocultam
Em desesperada harmonia
Gritos baixos
Não mostram descontentamento
E seguem em objetivos
Que não são seus

Algumas vezes eu penso
Que não faço parte disso
Algumas vezes eu vejo
Que nem sou daqui
Mas é por muito pouco tempo
Pra que a ordem do momento
Não se altere
Espalhando então
Verdades em um ventilador

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Com os pés atentos

Se te disser um dia
Que vou mostrar meu espírito
E te contar coisas de um outro mundo
Cuidado você pode me assustar
Se encontrar portas trancadas
Fechadas em mistérios simples
Quebráveis como vidro
Pise com os pés atentos
Para que nada desmorone
É tudo o que tenho
É tudo o que posso dar
Posso não te agradar
Pode não ser muita coisa
São papeis e mais papeis
Envolvidos cuidadosamente
Em embalagens de sonhos bobos
De uma realidade distante
Talvez você não entenda
Talvez não possa enxergar
Sou o caminhante de outras terras
Minhas pegadas não marcam esse chão
É tudo o que tenho
Pontos de restauração
É tudo o que eu tenho
Meus poemas e pensamentos

Outro começo de noite

Outro começo de noite