domingo, 28 de março de 2010

Minha alma

Alma não tem cor
Minha alma não é branca
Minha alma não é negra
Minha cor nasceu comigo
Minha alma não

Construí cada coisa
Cada segredo
Construí cada coragem
Cada medo
Minha alma não tem cor
Cor não tem segredo e nem desejo
Meus sonhos eu que escolhi
Minhas virtudes não tem gen.
Eu que decidi
Que fiz assim
Em um processo sem fim
De sobressaltos e tombos
De conhecimentos e preconceitos
De construções e descontruções

Meus parentes eu que escolho
Meu sobrenome é só meu
Pertenço-me a eu mesmo
Sou um pouco de tudo
E muito do que me agrada
Minha alma não tem genética
Minha alma não tem brasões
Não tem sobrenome
Tem talvez um nome
Aquele que assino como sendo eu
Aquele que carrega uma historia
E nada mais

Caminho inocente da loucura

Caminhando para loucura
Cantando musicas
Em marchas revolucionárias
Acreditando em heróis
O coração tem pressa
Na sede da mudança
Acreditando nos homens
Com a fé na humanidade
Sem ver o abismo que chega
O coração tem pressa
Corre demais e se cega
Não enxerga a si mesmo
Exteriorizando a felicidade no coletivo
No caminho inocente da loucura
Que não descobrindo a desilusão
Morre na fé feliz
De quem acredita na mudança

Otimismo desmedido

Com a criança
Ela entrou pelo ônibus
Pediu dinheiro
No final do sábado
Todos olhando desacreditados
Em suas vidas cansadas
Mas no animo de quem ainda não se cansou
De quem ainda acredita e tem menos de trinta
De quem tem pouco dinheiro e muita vida
O garoto abriu sua carteira
Era tudo o pouco que tinha
A mãe agradeceu em seu gesto automático
Seguiu pelo corredor
Mas a criança ainda de colo
Virada para trás
Deu um sorriso
Tão pequena e tão brasileira
E o garoto saiu feliz
Sentindo se útil Em seu otimismo desmedido

O lunático

A chuva ou o vento
Ou qualquer coisa que pudesse meter medo
Não alcançavam o caminhante
Com pensamentos que não se molham
Continuava andando
Com seu pensamento fixo
Sem que nada o abatesse
Em passos concentrados
Feixes de luz se abriam no céu
Estrondos faziam tremer as arvores
As enxurradas desciam
Passando por bueiros entupidos
E como se nada acontecesse
O lunático continuava
Traçando seu rumo

Pela manhã

Sei que o caminho é longo demais
Mas podemos parar algumas vezes
Para ver a chuva cair
E o brilho do sol refletido na água

Lembraremos de casa
De como tudo dá saudade
E a cada novo dia
Olharemos mais adiante
Procurando saber o que há depois
Mas podemos parar ás vezes
Esperar cair o dia
E ver nascer às estrelas no céu
Retornaremos pela manhã
Enquanto o sol ainda não é tão quente
Seguindo até que dê meia volta na terra

Vamos nós orientar pelos astros
Seguindo o tempo da vida
Acompanhando nossos instintos
Vamos ser só seres comuns
Como qualquer pássaro
Que vai embora no inverno
E sentindo saudade de casa
Volta na primavera

Talvez demoremos voltar
Mas vamos parar no caminho
Observando cada pequena coisa
Tornando se definitivamente
Parte de tudo
De um todo que ainda não conhecemos

Nossas perguntas não serão respondidas
E quando chegarmos
Haverá uma grande descoberta
Algo que já sabíamos
Sem nunca ter conseguido enxergar

Caminhando pela manhã
Procurando um abrigo de noite
Sem que a loucura nós convença a ficar
Para destruir com raízes de concreto
O que nós faz viver
Então seguiremos no tempo dos astros
E talvez sejamos humanos

Quem vai parar

Quem vai parar a chuva
Enquanto lembramos de tudo
Vendo chegar perto
Os medos de um outro tempo
Batendo a porta
Em nossos monumentos
Inabaláveis casas de areia
Jogadas na tempestade


Não é nada misterioso
O que cresceu do chão
Pensamos ter nascido hoje
O sol não nasceu ontem
E só o que queremos ver
Os dias depois de hoje
Já estava tudo aqui
O que cresceu do nada
Que foi se levantando
De uma vida sem passado

Mas lembramos de ontem
E nossas casas de areia
Jogadas no vento
Já não temos onde dormir

Sou o submundo

Sou o submundo
Esse é o meu povo
Esses são os meus parentes
E Deus me ajude
Para que não me esqueça nunca
Do lugar de onde vim
De quem quero representar
Eu escrevo como prova
Para não mostrar hoje á ninguém
Para que vejam em um futuro distante
E me ridicularizem nas ruas se eu me trair
É como documento que escrevo
É tentando fazer rimas
É tentando ser artista embora não consiga
Para que um dia quem sabe
Minhas palavras entrem em células revolucionarias
E cativem corações sedentos

Dia forma musica

Uma musica
Final da noite
Talvez sonhe acordado
Mais uma forma
Um jeito
De caminhar por outros cantos
Bem longe de mim
Mais uma musica
Dia forma musica
Historias formam musicas
Matemática forma melodia
Sons criam passagens
Passaportes da mente
Mais um dia
Uma composição no final da noite
E é o que se tem
Para caminhar por onde não se pode chegar
No espaço limitado da realidade
E ir pelas rotas de uma estrada sem fim

sábado, 13 de março de 2010

Felicidade de se estar vivo

Olhando coisas do passado
Não acreditando
Nas besteiras descritas
É isso que faz mover
É isso que torna humano
Poemas ridículos
Erros gritantes
Que ficaram de qualquer jeito
Fazendo lembrar
Que se é qualquer um
Que se é estúpido e comum
Bem medíocre
Bem normal
E isso faz viver feliz
Um anônimo em uma cidade
Que apenas se sente feliz
Só por existir
E ser mais um
E saber que o mundo não o conhece
E por ser mais um
Por ser comum
Por ser normal
Pode se ser qualquer coisa
Enchendo assim o espírito
De toda certeza do mundo
Que durante muitos dias
Irá acordar feliz
Só por estar vivo
Só por conversar com alguém
E escrever poemas
Que nunca serão corrigidos

sábado, 6 de março de 2010

Tarde demais

Se é tarde demais
E as ruas já estão vazias
Se alguém caminha sozinho
E as luzes dos letreiros
Colorem a cidade
Nada atinge
O silencio da noite
Com seu medo
E seus segredos
Guardando ainda o calor
Do movimento do dia
Qualquer coisa que aconteça
E vire manchete
Institui as lendas
Do perigo freqüente
De madrugadas quentes
Para aqueles que dormem
Cerrarem os dentes
E se sentirem seguros
Como bobos indolentes
Em meio às multidões
De crimes
Muito mais freqüentes

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sem tempo

Sem tempo
Vou escrevendo sem pensar
Fazendo rimas bestas
Que me fazem alegrar
Vou rimando
Ar com ar
Movimentando o pensamento
Acelerando as composições
Queria mesmo ser repentista
E saber criar
Pois não há nada
Que faça acreditar
Que algo muito escrito e muito revisto
Possa ter um pouco de verdade
Quanto mais se pensa
Mais se revisa um sentimento
E quanto mais sincero
Mais simples e sem esmero
Por isso vou fazendo composiçoes
As mais rápidas possíveis
Para que no fim de algum tempo
Eu responda com muita maestria
De um grande repentista
A uma pergunta bem feita
Afim de se formar
O melhor discursso ja visto
Para que se possa persuadir
Com palavras fundamentadas
A quem se precise falar!

Não me faça entender

Não ande ao meu lado
Se não me deixa te tocar
Não sou de insistir
Nem de implorar
Você vai ter que se decidir
Tenho pouco tempo pra esperar

Meus dias são curtos
E minha mente acelerada
as vezes se bloqueia
em coisas pequenas
Evito a desilusão
E não quero nada em vão
Espero uma resposta certa
Para certezas não há dúvidas
E se há duvidas não quero uma incerteza


Já vejo uma saída
Desde quando entrei
Então me dê
Pelo menos um motivo para ficar
Não me explique nada
Nem me faça entender
O que nem você sabe explicar

Ao sul do rio bravo

Não me jogue para baixo
Que hoje sinto me feliz
Ouvi histórias de sangue
De quem lutou por mim

Não me faça desacreditar
Que hoje tenho fé
Fiquei sabendo de homens
Que vieram
E não se deixaram esmorecer

Não me diminua
Que hoje sou gigante
Senti a fúria
Dos domadores de cavalos
Cruzando as plânices
Para que algo restasse
E um novo mundo se constituisse


Não me chame de fraco
Que meu sangue é latino
Do sul da patagônia ou andino


Não me desacredite
Que hoje sei a historia
Escondida embaixo das pedras
Encontrei herois
Nas linhas de um livro
Falaram á mim Zapata e outros mais
E em cada palavra
Promessas de retorno

Não me desafie
Que a rebeldia é minha virtude
Eu que nasci
Ao sul do rio bravo
Ajoelhei-me aos pés
Da virgem de Guadalupe
E desde então não há nada que me faça tremer
Eu quero ser o terror do norte
E a esperança do sul

Canto do pacifista

Que nem louco
No meio do fogo
Gritava alto
O som aterrador
O corpo ardia no incêndio
Aos poucos as suplicas
Foram se diminuindo
E logo um sussurro
Já sem se debater
Enquanto olhávamos para o lado
cheios de irritação,
Aquele barulho incomodava
O homem demorava a passar
mais do que se podia imaginar,
Resistiu muito
E seus olhos ainda tentavam
Achar algo á que pudessem se pegar
O homem não precisava
Podia se conformar
Mas quis se debater
Seu sangue era quente
E ninguém conseguiu
Domar um sentimento
Que nada poderia explicar!

Outro começo de noite

Outro começo de noite